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Returnal

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Um novo ponto alto para grafismo, som, e controlos na PlayStation 5.

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A Housemarque já é um estúdio com provas dadas, sobretudo dentro do género "shooter/arcade", mas com todo o respeito a Resogun, Super Stardust, e Dead Nation, Returnal está noutro nível. Foi um jogo construído de raiz, e só, para a PlayStation 5, e isso nota-se. Grafismo, som, loadings (ou a sua total inexistência), controlos... tudo vai beber às características da consola para proporcionar aquela que é, para já, a nossa experiência de jogo favorita de 2021.

Returnal é um triunfo ao nível da jogabilidade, mas isso já se esperava da Housemarque. Mais surpreendente foi a sua aposta numa estrutura narrativa tão peculiar. A aventura de Selene neste mundo estranho e misterioso desenvolve-me aos poucos, desvendando apenas pequenos vislumbres do que realmente se passa, quase sempre levantando mais questões que respostas. Mais interessante ainda, o jogo raramente recorre a sequências de vídeo, relatando a história através de sequências de jogabilidade na primeira pessoa, ficheiros de áudio, pistas ambientais, e texto. Se gosta de um bom mistério de ficção científica, não vai ficar desiludido com a história de Returnal.

Melhor ainda, essa história está intensamente ligada à jogabilidade. Selene, exploradora espacial, despenhou-se num planeta chamado Atropos, e cedo percebe que está presa num 'loop' de ciclos que se reiniciam sempre que morre. Durante a aventura irá encontrar mensagens deixadas por versões anteriores de si própria, aumentando ainda mais o mistério do que se passa em Atropos. Mais estranho ainda, eventualmente descobre uma casa do século XX também presa no planeta, uma casa que pode explorar na primeira pessoa, e que irá aprofundar o mistério.

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Essa história bizarra é reforçada por um ambiente fenomenal, que é tão eficaz porque Returnal é também o melhor exemplo que jogámos até hoje do verdadeiro potencial do áudio 3D Tempest e do DualSense. Os sons da estranha flora e perigosa fauna deste planeta preencheram os nosso fones, enquanto o comando nos fazia sentir cada pingo da chuva, cada salto, e cada disparo com intensidade. A forma como o jogo utiliza os gatilhos adaptáveis é também genial, criando dois níveis para apontar a arma. Pressione um pouco de L2, e o gatilho irá travar a meio, apontando a mira principal. Pressione mais fundo no gatilho, e a mira alterna para o disparo secundário da arma. Requer alguns minutos de habituação, mas é genial.

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Returnal é também um triunfo visual, não apenas porque está a correr a uns deliciosos 60 frames por segundo, não apenas porque está a rebentar de partículas e efeitos maravilhosos, mas sobretudo porque essa elevada capacidade técnica funciona em serviço de um trabalho artístico altamente inspirado. Inicialmente são óbvias as inspirações em filmes como Alien e Prometheus, mas eventualmente o jogo apresenta suficientes ideias originais para se tornar em algo próprio. Cada área (existem várias, desde florestas a desertos, além de outras que vamos deixar para descobrir) apresenta um estilo visual altamente distinto, mas igualmente inspirado.

Normalmente é costume referir-se o "ciclo de jogabilidade" dos videojogos, mas em Returnal essa expressão tem ainda mais força. Na sua essência, Returnal funciona como um 'roguelite', no sentido em que o jogador regressa ao início do jogo (a nave despenhada de Selene), sempre que morre. Contudo, a protagonista consegue guardar algumas coisas dos ciclos anteriores, nomeadamente em termos dos itens principais que permitem aceder a novas partes do mapa, incluindo uma espada estilo Lightsaber, e um gancho para alcançar plataformas elevadas. Acesso às áreas diferentes, e a um recurso conhecido como Ether, ficam também desbloqueados, mas tudo o resto desaparece ao morrer.

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Armas, melhoramentos de saúde, artefactos, parasitas... tudo isto desaparece. Essa estrutura não é estranha para fãs dos géneros 'roguelike' (tudo se perde com cada tentativa), e 'roguelite' (existe um progresso entre tentativas), mas quem não estiver habituado poderá achar a experiência de jogo frustrante. Isso é ainda mais evidente devido ao elemento aleatório do design. Os mapas estão divididos em várias áreas, e emboras essas áreas estejam pré-estabelecidas, a sua ligação e composição muda com cada ciclo.

Isto significa que nunca sabe os tipos de itens que irá encontrar, ou quando os irá encontrar, e considerando que são vitais para a sua sobrevivência, vai sempre precisar de alguma sorte para encontrar os melhores itens. Returnal não é um jogo muito difícil no momento-a-momento. Não é fácil, mas também não é extremamente difícil, nem o podia ser, já que só tem uma vida, mas está muito dependente do que encontra pelo caminho.

É perfeitamente possível morrer sucessivamente durante algumas horas, mas se explorar tudo, e tiver sorte com o que encontra, pode ficar num estado tão poderoso, que depois pode avançar várias horas sem morrer uma única vez. Depende tudo de um misto de habilidade sua com sorte - e gostaríamos que dependesse um pouco menos de sorte. Dito isto, também sabemos que o jogo será reequilibrado no futuro, e este aspeto pode melhorar.

Mas o que queremos dizer com itens? Bem, muita coisa, já que Returnal é um jogo com grande profundidade ao nível de sistemas. O principal recurso são as armas, naturalmente, e existem vários tipos clássicos, como pistolas, espingardas, caçadeiras, e metralhadoras... mais algumas surpresas. Cada arma tem atributos, tiros secundários, e características especiais, mais ainda mais importante que isso são os pontos de perícia do jogador com armas. Ao matar inimigos, e ao encontrar itens específicos no mapa, irá aumentar o seu nível de perícia, que determina a qualidade das armas que encontra. O problema é que esse nível de perícia desaparece quando morre, o que significa que tem de o ganhar de novo.

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Depois existem artefactos, que acrescentam benefícios ativos. Regeneração automática de saúde, maior proteção, mais dano... existem dezenas de artefactos para encontrar, que podem ser uma ajuda tremenda no seu ciclo. Infelizmente, também desaparecem quando morre. Existem outros itens semelhantes, que são os parasitas, mas estes acrescentam dois efeitos - um benéfico, outro prejudicial. Imagine um parasita que aumenta a proteção geral, mas causa dano sempre que apanha um item, por exemplo. Cabe ao jogador fazer contas à vida e perceber se será mais benéfico ou mais prejudicial apanhar ou deixar o parasita.

Também irá encontrar itens e baús corrompidos, que irão causar defeitos no seu fato. Se abrir um baú corrompido, por exemplo, irá apanhar o item que está lá dentro, mas também pode ganhar um efeito negativo como "redução de dano se ficar parado". Para perder esses efeitos negativos terá de encontrar um consumível que os elimina, ou cumprir os requisitos pedidos, como eliminar 12 inimigos, por exemplo. Mais uma vez cabe ao jogador decidir se os benefícios justificam as desvantagens. Existem também consumíveis, que podem acrescentar efeitos benéficos temporários, como eliminar de imediato o tempo de espera dos disparos secundários (que são mais poderosos que os primários).

Quanto à própria Selene, consegue correr a grande velocidade, salta, e tem um "dash" que lhe permite desviar do perigo (fica imune quando faz dash, o que é uma bênção). A câmara funciona com uma perspetiva clássica de terceira pessoa, posicionada nas costas da personagem, e tudo está incrivelmente refinado. É realmente um prazer jogar Returnal, e isso é essencial num jogo que requer tantos recomeços - é difícil parar de jogar, e isso deve-se sobretudo à jogabilidade e ao facto de não existirem ecrãs de loading.

Returnal é um jogo de grande qualidade, e mais que isso, é uma experiência bastante peculiar. Nunca jogámos nada exatamente como Returnal, um jogo de ficção científica com um elevado nível de produção, embrulhado numa história misteriosa e uma estrutura roguelite... que tem algumas surpresas que não podemos revelar. Não terá o mesmo apelo comercial que outros exclusivos Sony, devido à natureza potencialmente frustrante da estrutura de jogo, mas os mais "hardcore" vão certamente passar muitas horas perdidos no mundo estranho e hipnotizante de Returnal.

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09 Gamereactor Portugal
9 / 10
+
Visualmente é muito bom, mas os efeitos sonoros e a música são de outro mundo. Excelente utilização do Dual Sense. História intrigante. Ciclo viciante de jogabilidade.
-
Os elementos aleatórios podem causar alguma frustração. Jogo deixou de funcionar em pelo menos três ocasiões (esperemos que seja resolvido num patch).
overall score
Esta é a média do GR para este jogo. Qual é a tua nota? A média é obtida através de todas as pontuações diferentes (repetidas não contam) da rede Gamereactor

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