Lego Dimensions

A série Lego sempre conseguiu desarmar todas as críticas que lhe foram dirigidas graças à sua jogabilidade para toda a família e sentido de humor, bem como pelo tratamento impecável que sempre deu aos filmes em que (quase) todos os jogos são baseados. É impossível não gostar da combinação de Lego com sagas bem conhecidas como Star Wars, Senhor dos Anéis e Indiana Jones, mesmo quando os filmes passam para segundo plano e entregam o protagonismo às figuras da Lego e ao mundo onde habitam.

A coleção Lego contém um número impressionante de títulos que vão surgindo com uma frequência que seria criticada caso se tratasse de outra série ou franchise. Presumivelmente, existem poucos jogadores dedicados o suficiente para comprar todos os jogos. Na maior parte dos casos, a vontade de regressar à série apenas "ataca" quando somos um fã de determinado filme, daqueles clássicos que periodicamente revemos em casa. Os jogos Lego providenciam uma remistura dos seus principais temas para experimentarmos tudo de novo, embora com outro prisma, e também com o humor bem conseguido que a produtora TT Games tem estabelecido como pedra basilar da sua série ao longo dos anos.

Mas tudo isso muda agora. Lego Dimensions marca a exploração de novo território para a série. Os produtores podem agora romper as linhas condutoras autoimpostas que lhes têm servido de guias e deixar para trás as adaptações narrativas dos filmes, tudo isto sem negligenciar a fórmula de sucesso dos jogos. O conceito básico parece algo retirado de uma das nossas brincadeiras de criança, onde todos os tipos de brinquedos eram usados ao mesmo tempo. A mudança é facilitada pela seguinte ficção: o malvado Lord Vortek invadiu o multiverso Lego, mas não contava com os heróis Lego que, em Dimensions, surgem de diferentes universos e proporcionam aquela que é provavelmente a mistura mais entusiasmante entre diferentes elementos da cultura pop em tempos recentes (ou, pelo menos, desde o Lego Movie).

Lord Vortek combate contra Batman, Gandalf, Dr. Who, os Caça-Fantasmas, Scooby-Doo e Marty McFly. Claro que existem outros, mas estes são apenas alguns dos nomes que foram exibidos brevemente durante a apresentação da Warner em Santa Monica. O painel parecia

um mural de publicidade num grande evento desportivo: incluía também os robôs de Portal 2, os Simpsons, vários heróis da DC Comics, os próprios Ninjagos da Lego e o recentemente adaptado Jurassic World. Apenas falta Star Wars, claro, por motivos óbvios.

A jogabilidade é muito semelhante à que encontrámos em outros títulos da série Lego. Há pouco de surpreendente (para além da mistura eclética de personagens) quando, durante o nosso contacto com o jogo, aceleramos pela Estrada dos Tijolos Amarelos com Gandalf ao volante do Batmobile. Os objetos feitos de Lego são desmantelados e soltam moedas ou novos blocos para outras construções. Mudamos rapidamente de personagem e Batman dispara o seu gancho para remover um obstáculo do caminho. Subitamente, a bruxa malvada ataca com o seu exército de macacos voadores e atordoa o Cavaleiro das Trevas - e aqui entra em ação a grande novidade de Lego Dimensions: o Lego Portal.

O Lego Toypad é ligado à consola via USB. As personagens e veículos são colocados em cima deste, nas sete áreas acesas, e como que por magia aparecem no mundo de jogo. Após o ataque da bruxa, o local onde Batman está colocado acende a vermelho. Temos de retirar a sua figura e coloca-la noutro campo para o libertar do feitiço da bruxa. O Toypad tem um grande portal construído de peças da Lego e é semelhante ao que existe no planeta natal de Lord Vortek no jogo. É através deste portal que podemos visitar as várias dimensões.

Outro elemento físico e interativo são os veículos. Consistem de pequenas peças de Lego e precisam de ser reconstruídos conforme o jogo avança. Assim, o Batmobile transforma-se num Batblaster capaz de destruir peças da Lego até aqui invulneráveis. Um pequeno enigma desbloqueia as instruções relevantes e depressa transformamos o Batmobile no Batblaster e colocamo-lo de volta no Lego Portal.

À primeira vista, é um pouco desapontante que as nossas habilidades de construção não sejam assim tão importantes, e na verdade basta clicar nas instruções para desbloquear o Batblaster. Mas se pensarmos bem, a verdade é que a perda de uma única peça da Lego poderia potencialmente travar o progresso no jogo se a nossa reconstrução fosse comparada de forma precisa com o modelo existente no jogo. E talvez até prefiram deixar o Batmobile intacto ao invés de o desmontarem constantemente.

Mas o maior problema é outro: tudo isto sai bastante caro. O pacote básico inclui o jogo em qualquer plataforma da nossa preferência, o Lego Toypad com as peças para fazer o portal e também as figuras de Batman, Gandalf, Supercool (do Lego Movie) e o Batmobile. A Warner pede € 89,99 pelo conjunto, mas pelo menos é possível experimentar todo o jogo e até viajar através de todas as dimensões, ao invés de estarmos limitados às três dos heróis incluídos.

Ao contrário dos outros jogos da Lego, não existirão centenas de personagens jogáveis para desbloquear no jogo. Quem quiser jogar com Marty McFly, a Mulher Maravilha ou Scooby-Doo, ou pretender acelerar pela Terra-média com o icónico DeLorean, terá de pagar por esse prazer.

Um Level Pack (pack de níveis) inclui uma missão adicional, uma minifigura da Lego, um carro da Lego e uma arma da Lego, e custa o mesmo que o Team Pack (pack de equipa): € 29,99.

O Team Pack contém duas figuras e dois veículos ou armas. E ainda temos os Fun Packs (packs de diversão), que incluem uma figura e um veículo da Lego e custam € 14,99. Por isso, não pensem que o vosso investimento ficará apenas pelo pack básico.

No fim de contas, para a maior parte dos jogadores será uma questão financeira. Lego Dimensions tem todo o potencial para ser um êxito quando for lançado durante o outono, mas poderá ser dispendioso para a grande maioria dos pais. A mistura de vários universos Lego despertou a nossa curiosidade, por isso esperamos que exista qualidade e quantidade suficiente nessa parte do pacote para fazer esmorecer a dor inevitável que as nossas carteiras irão sofrer com o lançamento do jogo (que ainda não está definido para Portugal).