Hitman 3 é o último capítulo da trilogia de "World of Assassination", que começou com Hitman de 2016 e continuou com Hitman 2 de 2018, e mais uma vez, é um tiro certeiro do Agente 47. Sem querer entrar muito no território de 'spoilers', podemos dizer que desta vez o Agente 47 vai estar a caçar a própria agência para a qual tem trabalhado, embora não esteja totalmente só nesta sua cruzada.
O jogo em si é uma verdadeira continuação dos dois capítulos anteriores, no sentido em que não é nenhuma revolução nem tem grandes inovações, apresentando antes uma versão mais refinada da fórmula que tem sido utilizado até aqui. A ação furtiva está melhor que nunca, independentemente de se estar a esgueirar por onde não devia, ou de estar a utilizar um dos muitos disfarces à sua disposição. O combate mais direto continua a ser uma possibilidade, e está melhor que nunca, mas Hitman 3 não é um jogo de ação desse tipo.
O objetivo principal passa claro por eliminar o alvo, mas por norma, quanto menos pessoas eliminar pelo caminho, quanto menos pistas deixar, e quanto menos for visto, melhor. O que torna a saga, e em particular Hitman 3, tão interessante é o facto do jogo apresentar uma autêntica caixa de brinquedos e possibilidades para o jogador explorar, com muitas formas criativas para despachar os seus alvos. Eliminámos pessoas com esmagadores de uvas, bolas de golfe explosivas, e até com as suas próprias campas, e isto é apenas uma amostra muito pequena das possibilidades de Hitman 3.
À semelhança dos dois jogos anteriores, o Agente 47 irá visitar várias localizações espalhadas pelo mundo, como Dubai nos Emirados Árabes Unidos, Dartmoor no Reino Unido, Chongquing na China, Berlim na Alemanha, Mendoza na Argentina, e os Cárpatos na Roménia. Cada área de jogo é enorme e está cheia de pormenores, e no global formam um rol de localizações altamente diversificado. O design dos mapas é também bastante bom, apresentando muitas curiosidades, pequenas histórias, e até algum mistério, incentivando os jogadores a explorarem possibilidades e a repetirem missões.
Aliás, parte do segredo da série - e Hitman 3 não é exceção - passa por esse processo de exploração e descoberta. Existem formas relativamente fáceis e rápidas de despachar os alvos, mas essas não são normalmente as mais eficazes ou recompensadoras. Vale a pena experimentar com vários disfarces, tentar obter informações, e explorar as várias histórias secundárias que os mapas escondem. Em Dartmoor, por exemplo, assumimos o papel de um detetive privado que estava a investigar um homicídio. Isto deu-nos grande liberdade para explorar o mapa, mas também deu acesso a um mistério que quase nos fez esquecer que estávamos a jogar um Hitman.
Existem várias pequenas missões e histórias para descobrir em cada localização, e isso, em conjunto com as muitas formas criativas com que pode ganhar acesso a áreas dos mapas, ou eliminar alvos, tornam o jogo muito apelativo à repetição. Até pode mudar certas condições ao repetir missões, como o local em que vai aparecer, o tipo de itens que pode levar, e os atalhos desbloqueados. Se quiser realmente testar as suas capacidades, até pode ir contra o relógio para provar que é o assassino mais rápido do mundo.
Hitman 3 é portanto um jogo com grande incentivo para repetição, mas se só estiver interessado em cumprir os objetivos principais e depois encostar o jogo, então vai retirar muito menos da experiência. O jogo em si, nesta perspetiva linear, acaba por ser algo curto e não deve ocupá-lo por mais que cinco ou seis horas, mas Hitman nunca foi uma série conhecida pelas suas longas campanhas, mas antes pelas formas criativas com que pode repetir cada área.
Também vale a pena referir que Hitman 3 pode fundir-se com Hitman 1 e 2, desde que tenha os dois jogos anteriores, ou adquirida os respetivos pacotes, o que significa que se pode tornar num enorme bolo da trilogia World of Assassination. Existe uma questão ainda por resolver no que diz respeito ao PC, onde o facto do jogo estar na Epic Store está a criar alguns problemas para utilizadores do Steam, mas a IO Interactive afirma estar a tentar corrigir essa situação. Nota também para um ou outro problema técnico que encontrámos ao longo do jogo, incluindo situações em que o jogo parava de funcionar durante alguns segundos.
Embora esteja previsto mais conteúdo para o jogo, Hitman 3 é não só o fim da trilogia, mas também uma provável despedida para o Agente 47, pelo menos para o futuro próximo, já que a IO Interactive vai de seguida produzir um jogo inspirado em 007. Fica assim a compensação de que World of Assassination foi uma trilogia de grande valor, e que Hitman 3 é um último capítulo de grande qualidade, reunindo tudo o que o estúdio aprendeu ao longo de três jogos. O Agente 47 deve ir assim para um descanso merecido, mas esperamos sinceramente que não seja preciso esperar muitos anos pelo seu regresso.