Em 2019 tivemos a oportunidade de analisar Man of Medan, o primeiro capítulo desta saga de antologia da Supermassive Games, e não ficámos particularmente impressionados. Era um jogo de terror competente, moldado pelas ações e escolhas do jogador, mas as personagens não eram particularmente interessantes, e o jogo tornava-se algo aborrecido.
Agora, pouco mais de um ano depois, temos o segundo captíulo de The Dark Pictures, intitulado Little Hope, com uma nova história, novas personagens, e novo elenco. O jogo arranca com um acidente de autocarro, junto à pequena vila de Little Hope, e rapidamente apresenta as cinco personagens jogáveis:
• Andrew, estudante e o protagonista da história.
• John, professor de meia-idade
• Daniel, um estudante popular e desportista que está apaixonado por Taylor
• Taylor, uma jovem rapariga, algo teimosa, que está apaixonada por Daniel
• Angela, uma idosa rabugenta
O objetivo inicial passa por conseguir ajuda, depois do acidente, mas a aldeia está aparentemente abandonada - e envolta num nevoeiro cerrado. A visão é de tal forma impeditiva, que o grupo nem tem realmente escolha sobre para onde seguir, obrigado a visitar áreas específicas da aldeia. E claro, depois começam a acontecer ocorrências cada vez mais bizarras e perigosas. Terá então de tentar perceber o que está a acontecer, de desvendar os mistérios, e isso, acabou por ser uma tarefa mais difícil do que antecipávamos.
A tensão inicial começa a acalmar um pouco quando assumimos o controlo de Andrew, com John, Angela, Taylor, e Daniel, logo atrás. Little Hope tem um passado algo controverso, ligado a bruxaria, mas existe aqui uma conspiração escondida que eventualmente começa a cativar mais o grupo do que a própria iniciativa para escaparem.
Entretanto, uma pequena luz a piscar na escuridão diz-nos que está ali um objeto para investigarmos, o que normalmente se traduz numa pista para analisar, como um artigo de um jornal, por exemplo. Little Hope tem um ritmo razoável, bem melhor que o de Man of Medan, e é rico em atmosfera e ambiente, mas também acabou por ser algo frustrante por não termos conseguido guiar a história na direção desejada.
A história deve ter-nos ocupado durante perto de cinco horas, ou algo por aí, mas logo de seguida recomeçamos a aventura para tentar encontrar mais segredos e experimentar com decisões diferentes. Infelizmente a segunda passagem não tem naturalmente o mesmo impacto, e perde grande parte da tensão, mas pior que isso, não muda assim tanto que justifique repetição.
O estilo da Supermassive Games continua bem presente, misturando um ambiente sinistro e misterioso, com alguns diálogos 'baratos' e sustos repentinos. Mas o melhor mesmo é o design dos monstros, altamente inspirado, embora as suas interações com eles se resumam sobretudo a pressionar botões na ordem certa. Isto é, afinal de contas, uma aventura de terror à base de narrativa, não é um jogo de ação ou até um "Survival Horror" clássico.
Dito isto, a lentidão dos monstros e a própria estrutura do jogo acabam por arruinar parte da tensão. Se, como nós, está habituado a jogos de terror, é pouco provável que tenha 'medo' de Little Hope. Interesse, sim, sustos, muitos provável, mas medo? Dificilmente. Ainda assim, é um jogo competente, ainda que não mais que isso. O desempenho dos atores é bom, o grafismo tem qualidade elevada, e as animações faciais estão soberbas.
Pena que falhe numa das suas principais premissas - enredo moldável pelas decisões do jogador. Existem alguns momentos que são variáveis, incluindo a morte de personagens, mas isso não afeta realmente a história, apenas quem diz ou faz o quê. Depois de jogarmos quatro vezes, não podemos deixar de expressar a nossa desilusão por não termos encontrado uma variedade razoável. Seja como for, se procura um jogo de aventura e terror que dure perto de cinco horas, é uma proposta com algum mérito.