Durante estas últimas semanas gritámos mais palavrões do que provavelmente no resto do ano todo. Libertámos sons quase inumanos enquanto os nossos punhos batiam na secretária e no teclado. Fazer a análise a The Elder Scrolls Online foi um exercício de paciência, porque apesar de termos apreciado grande parte do nosso tempo em Tamriel com outros jogadores, parece-nos óbvio que o jogo foi lançado muito antes de estar numa fase aceitável de equilíbrio e solidez.
Dito isto, também é normal esperar alguns bugs em jogos deste género. Estamos a falar de mundos de jogo massivos, populados por centenas ou milhares de jogadores - é um género onde o ciclo de produção continua mesmo depois do lançamento. Mas mesmo tendo este aspeto em conta, The Elder Scrolls Online destaca-se dos restantes pela negativa, muito longe do seu seria uma experiência desejável para o lançamento.
Sinceramente, não nos lembramos de ter encontrado tantos problemas no lançamento de um MMO. É um pouco como ter um carro clássico: quando The Elder Scrolls Online funciona como é suposto, consegue ser genuinamente divertido, mas é impossível afastar a sensação de que a qualquer momento algo se pode partir.
Durante o Verão tivemos acesso a uma versão ainda antecipada da beta, onde aprendemos que não deveríamos esperar uma experiência clássica de Elder Scrolls. O ênfase está claramente em "Online" e não em "The Elder Scrolls", e mesmo que alguns componentes icónicos da série a solo, como o compasso, o sistema de progressão à base da repetição das ações e o impacto das escolhas de diálogo estejam presentes, depressa percebemos que a estrutura seria a de um clássico MMORPG.
Isto torna-se evidente bem cedo, depois da fuga inicial da prisão e da viagem para Tamriel, onde descobrimos que ao contrário dos Elder Scrolls tradicionais, não podemos explorar o mundo livremente. Em vez disso estão mais ou menos presos num território específico até que a personagem atinja o nível necessário. Isto obrigou-nos a jogar durante horas numa área de que não gostávamos especificamente, a cumprir tarefas que não eram interessantes e a seguir uma história com a qual não tínhamos ligação.
A série Elder Scrolls é conhecida por oferecer um grau de liberdade praticamente sem paralelo. Até podem pegar em vários objetos e mudá-los de sítio só porque vos apetece, mas isso já não acontece em The Elder Scrolls Online. O motor de física fantástico que governou Skyrim e Oblivion, por exemplo, foi substituído por algo mais básico, dentro do estilo dos MMO clássicos. Não só isso, como as Quests pareceram-nos bem mais simples e sem os momentos de brilhantismo que existem tradicionalmente em Elder Scrolls. O próprio mundo e as aldeias não têm a vivacidade ou a personalidade características da série.
Pior ainda, existem muitos bugs, falhas que chegam a impossibilitar a resolução de algumas Quests, mas pelo menos foi positivo verificar que algumas podem causar um impacto real no mundo de jogo. Numa das vilas a população ficou doente e cabe ao jogador desvendar o mistério. Eventualmente descobrimos que foi uma ferreira que envenenou a água, tudo porque estava farta de suportar o triângulo amoroso em que estava envolvida. Quando eventualmente resolverem a questão, os habitantes vão começar a recuperar a sua saúde e a própria aldeia irá ultrapassar várias etapas, até que eventualmente se torna num local muito apreciável e agradável para regressos futuros.
Depois de algumas horas de jogo, tornou-se evidente que The Elder Scrolls Online está no seu melhor quando não estão a seguir as indicações, mas a explorarem em direções aleatórias (no limite a que o mapa vos deixa), enquanto 'tropeçam' nas vossas próprias aventuras. Um pouco como a série tradicional, mas sem nunca oferecer o mesmo grau de qualidade ou liberdade. De qualquer forma, existe muito conteúdo interessante para o jogador mais aventureiro descobrir.
Um elemento da série que foi transportado para The Elder Scrolls Online foi o sistema de habilidades, que evoluem de acordo com as ações e escolhas do jogador. Por exemplo, se utilizarem armadura leve, vão melhorar em armadura leve. Se lutarem com espadas, vão melhorar esse aspeto e assim sucessivamente. Ao utilizarem habilidades de um tipo específico, como Assassination dos Nightblades, vão desbloquear habilidades superiores nessa área e também podem melhorar as que já têm. A nível 15 vão ganhar a capacidade de mudar de armas e habilidades em tempo real, com o simples pressionar de um botão, o que desbloqueia uma série de opções e táticas.
Funciona bastante bem, para sermos honestos. Começamos o jogo como um arqueiro com armadura pesada, até que nos apercebemos que assassinar inimigos com adagas era mais divertido. Nesse aspeto, tiramos o chapéu a The Elder Scrolls Online. Se procuram um MMORPG que permita realmente criar e moldar uma personagem única, vão adorar esse aspeto do jogo.
Outro elemento característico da série que foi transportado para esta variante online é a opção de jogar com uma perspetiva na primeira pessoa ou na terceira pessoa, mas aqui a situação está invertida em relação ao jogos tradicionais. Se em Skyrim é mais fácil jogar na primeira pessoa do que na terceira, em The Elder Scrolls Oline a perspetiva na primeira pessoa torna a experiência demasiado frustrante. Tanto o combate, como até pequenas sequências de plataformas, são simplesmente ineficazes com essa perspetiva. Eventualmente desistimos e afastámos a câmara, como em tantos outros MMORPG.
A partir de nível 10 podem viajar para Cyrodill, que os fãs podem reconhecer como a área de jogo de The Elder Scrolls IV: Oblivion. Aqui vão encontrar opções de PvP, para partidas competitivas entre jogadores. É aqui que as três facções do jogo; Aldmeri, Ebonheart e Daggerfall se encontram para combater, enquanto tentam controlar fortes, minas e moinhos. Até podem ganhar os próprios Elder Scrolls, que garantem vantagens para o exército inteiro. O plano, em teoria, passa por uma união das duas fações em desvantagem, para destronar a fação em vantagem. Infelizmente, ainda não vimos grandes exemplos práticos disso.
Em parte isso pode dever-se ao facto de o jogo ainda estar no ciclo inicial de vida, com muitos jogadores ainda distraídos com o conteúdo PvE das Quests, mas existe potencial para algo interessante. Mesmo independentemente da forma como tudo está a funcionar neste momento, é impressionante ver tantos jogadores em confronto num campo de batalha massivo e caótico. Vai ser curioso verificar como o PvP de The Elder Scrolls Online se desenvolve com o tempo.
Se já leram a primeira parte da nossa análise, então já sabem que existem cavalos que podem adquirir e que devem alimentar de forma a evoluí-los. Nesse mesmo texto, reportámos que o cavalo era extremamente lento, e que até tinha sido ultrapassado por um Dark Elf, mas entretanto isso mudou, graças a uma dieta rigorosa de maçãs especiais.
The Elder Scrolls Online provoca-nos uma reação de amor/ódio. A certo ponto, tudo corre na perfeição, enquanto exploram uma masmorra desafiante com alguns jogadores simpáticos. Noutro momento, estão a ser apresentados a várias personagens desinteressantes através de sequências aborrecidas e sem vida. Em alguns períodos de pura magia, vão apreciar as paisagens fabulosas do jogo, enquanto desfrutam da fantástica banda sonora... isto se o servidor não vos desconectar e prender-vos num ecrã de loading interminável pela quarta vez no mesmo dia.
The Elder Scrolls Online tem os seus pontos de interesse para quem aprecia a exploração e deseja entrar no mundo fantástico de Tamriel, mas o jogo parece-nos ainda longe de completo. E mesmo entre o conteúdo que está polido e final, existem muitos momentos desinteressantes, que parecem mais abundantes do que o conteúdo genuinamente interessante e satisfatório.
Sinceramente, não acreditamos que continuaremos muito mais tempo no mundro de Tamriel, sobretudo considerando a mensalidade de € 12.99. De qualquer forma, convém referir que a Zenimax Online Studios promete um apoio constante ao jogo e uma introdução regular de conteúdo, de forma a justificar a subscrição.
Se são fãs de The Elder Scrolls, vale a pena experimentar esta versão online de Tamriel, nem que seja apenas durante os 30 dias incluídos com o jogo. Mas estejam preparados para variar entre bom e mau conteúdo, bem como enfrentar potenciais bugs que podem prejudicar e muito a experiência. Dependendo de como a Zenimax resolve os problemas e de como o jogo evolui, The Elder Scrolls Online pode tornar-se num MMORPG genuinamente interessante, mas ainda não está nesse ponto.